Idealizado por ex-professora norte-americana, o Embody não exige cadastro ou conexão com a nuvem A engenheira de software brasileira Dani Bonilha encontrou a Embody quase por acaso, enquanto buscava uma vaga de emprego para uma amiga. Acabou se candidatando a uma posição no aplicativo norte-americano de acompanhamento do ciclo menstrual com foco em privacidade de dados — e foi escolhida para liderar o desenvolvimento da plataforma do zero.
Ela já vinha trabalhando, por conta própria, no Brasil, em uma solução com o mesmo propósito. "Vi que era uma oportunidade incrível de construir um produto que eu mesma queria usar: um app de acompanhamento menstrual feito por mulheres. Nunca entendi por que a maioria dos produtos para mulheres não são criados por nós", afirma.
A idealizadora do Embody é a americana Anna Hall, ex-professora da rede pública que, durante 10 anos, atuou com jovens com deficiências de fala e motoras, usando a tecnologia para auxiliá-los. Após a pandemia, ela buscava uma nova trajetória profissional. "Meu marido fundou algumas startups e sempre achei gratificante ver algo nascer do zero e virar um negócio real", conta.
Aos 31 anos, Hall foi diagnosticada com Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM), uma condição crônica que intensifica os sintomas da TPM e afeta mais de 2 milhões de brasileiras. O diagnóstico a aproximou da comunidade ativista da saúde feminina e a motivou a entender melhor seu próprio ciclo. Ela testou diversos aplicativos, mas sentiu falta de informações claras sobre cada fase. "Eu fiz o download de quatro aplicativos para ver o que cada um me fornecia como ferramenta e não encontrei nenhum que me falasse especificamente o que esperar em cada fase do meu ciclo", lembra.
O momento político nos Estados Unidos também foi relevante para a criação do Embody. Em junho de 2022, a Suprema Corte anulou o direito constitucional ao aborto no país. O caso reacendeu o debate sobre a privacidade de dados em apps de saúde, após denúncias que surgiram em 2019 sobre plataformas populares que compartilhavam informações sensíveis com empresas como o Facebook.
A norte-americana sentiu que precisava fazer algo sobre o assunto. "Eu tinha contato com um time experiente em criptografia e pessoas que podiam me aconselhar sobre como criar esse app. Decidi tentar", afirma.
Ela conseguiu um investimento inicial com a incubadora Thesis. Com esse capital, ela partiu em busca da pessoa que tiraria a ideia do papel e encontrou Bonilha, que trabalhava desenvolvendo apps para a Thesis e já tinha passagem por outras empresas de tecnologia como engenheira de software.
O aplicativo Embody traz informações sobre a fase do ciclo menstrual e sugestões para as usuárias
Divulgação
Para garantir a privacidade das usuárias, o Embody funciona no modo offline, com criptografia. Para acessar, não é preciso fazer um cadastro com os seus dados. Qualquer informação registrada na plataforma fica no dispositivo, sem exportação para a nuvem. Quando a usuária quiser suas informações, pode baixar os dados com senha e salvar onde preferir.
"Os dados se tornaram commodity, o que é estranho porque deveriam ser protegidos por leis de privacidade da saúde, mas não é isso que acontece. Agora as pessoas estão mais preocupadas com a privacidade dos seus dados e oferecemos paz de espírito porque eles não serão usados ou vendidos para outros players", declara Hall.
Bonilha, a CTO, pontua que a forma com que o aplicativo foi criado traz algumas facilidades, mas desafios também. "Não dependemos tanto de infraestrutura como outros apps, mas desenvolver algumas funcionalidades é mais desafiador porque o processo natural é usar a nuvem, o que não fazemos", comenta.
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O app também aposta em um visual mais clean e em conteúdo educativo sobre o ciclo menstrual, oferecendo dicas práticas sobre o que esperar e como reagir a cada fase. O ambiente de trabalho da startup segue essa filosofia de acolhimento. "Deixo claro quando estou em uma fase de energia mais baixa. Em algumas semanas, eu não rendo tanto, mas em outras consigo entregar muito mais", conta a brasileira.
O aplicativo foi oficialmente lançado em agosto de 2024 e, desde então, já atingiu 100 mil usuárias, em países como Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e Austrália – o crescimento foi orgânico, sem altos investimentos em marketing. Por enquanto, o foco tem sido divulgar nas redes sociais, como TikTok e Instagram. Para potencializar o crescimento, Hall quer captar uma rodada de investimento.
Em março, o Embody lançou uma versão paga, com novas funcionalidades, como registro de sintomas customizáveis. A mensalidade custa US$ 11,95 (R$ 68,35) e a assinatura anual, US$ 79,95 (R$ 457,34). O app pode ser baixado no Brasil, mas ainda não tem versão em português – o que é uma prioridade, segundo as cofundadoras.
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