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Foco em multimarcas e fidelização: como esta empreendedora faz sucesso com perfumaria brasileira de luxo

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Por Redação em 08/05/2025 às 06:19:52
Fernanda Elisa Orcioli atuou como executiva nesse mercado e sentia falta de uma marca nacional para ocupar esse nicho Durante 20 anos, Fernanda Elisa Orcioli, 43 anos, trabalhou com marcas de beleza e, especialmente, no segmento de luxo. Dolce & Gabbana, Chloé, Hugo Boss e Paco Rabane faziam parte do seu dia a dia. A liderança no lançamento de uma fragrância desta última grife a projetou internacionalmente, e ela foi transferida para a Paris (França) onde morou por dois anos. Na Europa, ainda viveu em Barcelona (Espanha), sempre cuidando de perfumes finos.

Voltou para o Brasil como diretora de uma multinacional que tinha no portfólio 12 marcas de luxo e respondia por marketing, digital, varejo, enfim, por toda a operação. Estava feliz com a ascensão na carreira, mas algo a intrigava: "Por que não existe uma marca de perfumes de luxo brasileira?", questionava. "Na Europa, me deparei com várias grifes de países sem tradição nem representatividade nesse mercado, e não me conformava que por aqui não havia nenhuma", recorda-se.

Essa inquietação ganhou novo significado durante a pandemia. Ela conta que, assim como para muitas pessoas, para ela também foi um período de mergulho profundo dentro de si mesma. Uma época para pensar no que queria da vida, no legado que desejava deixar. Perdeu a mãe, engravidou do segundo filho, estava prestes a fazer 40 anos.

"Mesmo sem nenhuma tradição na família, decidi empreender. Sou filha de funcionários públicos – professores, intelectuais. Ser CLT já tinha sido algo fora do trilho. Deixar de lado a carreira sólida e bem-sucedida para ter minha própria empresa foi uma enorme ousadia", diz.

Aromas luxuosos

Mesmo sem apoio da família, ela encarou o desafio.

"Estava preparada emocionalmente e tecnicamente, e estudei, me preparei, para isso. Ouvi em um podcast que para empreender com sucesso, o ideal era atender a três pontos: fazer algo que você saiba minimamente; contar com uma rede de networking consistente que possa ajudar no negócio e não ter medo de trabalhar duro. Eu tiquei tudo isso", conta.

Foi assim que fundou a Felisa, em março de 2023, no Rio de Janeiro (RJ). "Meu nome é Fernanda Elisa, e Felisa era como minha mãe me chamava. Além disso, queria uma marca com felicidade no DNA, e Felisa, para mim, tem a ver com ser mulher e ser feliz, a felicidade feminina", explica.

Orcioli criou a Felisa com recursos próprios. Segundo ela — que prefere não divulgar valores —, com economias da vida inteira. "Comecei sozinha, tanto em termos de trabalho, quanto em relação a investimentos", diz. Para empreender, inspirou-se na vivência no mercado de beleza de luxo e nas pesquisas que acompanhou ao longo da carreira, enquanto trabalhava em multinacionais. "O Brasil é o segundo mercado de perfume do mundo, só perde para os Estados Unidos. As pessoas têm de três a cinco perfumes diferentes. Se até pouco tempo atrás, aplicavam no pescoço, na nuca e nos pulsos, atualmente, dão, em média, dez borrifadas pelo corpo", explica.

Mirando nos fãs de fragrâncias sofisticadas — e, mais uma vez, com o objetivo de ocupar a lacuna de uma empresa de perfumes finos brasileiros —, Orcioli desenvolveu cinco produtos para lançar sua grife. Hoje, o portfólio conta com oito perfumes, o mais novo acabou de ir para o mercado.

Ela trabalha com perfumistas renomados, diretamente da França (a produção é terceirizada no Brasil). "Os perfumes da Felisa contam com matérias-primas de altíssima qualidade e utilizam ingredientes de empresas que fornecem para as maiores marcas do mundo", aponta. A empresária destaca, ainda, que é uma marca vegana, que não faz teste em animais e cuja cadeia produtiva é remunerada adequadamente (possui o certificado Fair for Life) e livre de trabalho infantil e análogo à escravidão.

Estratégias inovadoras

Para Orcioli, o principal diferencial da Felisa é a inovação: "Os três perfumistas franceses com quem trabalho sempre têm desafios no desenvolvimento de nova fragrâncias: precisam combinar o tradicional ao inusitado, ou seja, encontrar formas de misturar um ingrediente, como o jasmim, por exemplo, com outro que nunca foi utilizado junto com ele ou que foi, mas, no nosso perfume, é associado com alguma característica própria", explica a empresária.

A ideia, de acordo com Orcioli, é criar mistério, "confusão", questionamento. "Quero deixar o consumidor intrigado e apaixonado por algo que não é óbvio", define.Todos os perfumes Felisa são EDP (Eau de Parfum, que conta com maior concentração de fragrância na fórmula, permitindo fixação por mais tempo).

A Felisa também incentiva uma tendência em ascensão, que é o "layering", ou seja, criar camadas (layers, em inglês) de cheiro ao misturar mais de uma fragrância – e chegar a um aroma único. Com sugestões da marca, o cliente fica mais seguro para experimentar combinações e, claro, acaba comprando mais de um frasco.

A marca ainda investe em embalagens caprichadas e explora as cores, segundo Orcioli, que deixam transparecer a "pluralidade das fragrâncias". "Somos uma marca colorida, intensa, vibrante. O luxo sempre esteve conectado ao preto e branco, ao sóbrio. Mas a Felisa é o nosso jeito – brasileiro – de fazer luxo. O colorido é muito importante para traduzir nossos sentimentos e o que queremos ser", resume.

As estratégias têm funcionado. A Felisa não divulga faturamento, mas Orcioli afirma que a empresa cresceu aceleradamente três dígitos de 2023 para 2024 e, no primeiro quadrimestre de 2025 em relação ao mesmo período de 2024, também teve um incremento de três dígitos. Atualmente, conta com sete colaboradoras, todas mulheres, e registra tíquete médio de R$ 780.

"Os consumidores amam nossa marca: 30% das vendas de abril foram de recompra", conta Orcioli. O sucesso se deve à distribuição bem planejada nas 70 lojas multimarcas de perfumaria de luxo pelo Brasil – a maioria em shopping centers – onde, segundo a empreendedora, a Felisa é majoritariamente a única marca brasileira. Os negócios online, que representam 30% das vendas, também vêm tendo um crescimento expressivo: "É algo que acompanha o movimento norte-americano, e considero surpreendente, já que para comprar um perfume, o caminho mais natural seria cheirar o produto antes", conta.

A comunicação por meio das redes sociais ajuda. Orcioli faz questão de dizer que não é influenciadora, mas segue a tendência de ser a empreendedora que também dá cara à marca. Nos posts, ela surge falando sobre o propósito da Felisa, sobre os produtos em si, e mostrando um quê de seu estilo de vida. "De certa forma, todos os nossos perfumes têm a ver com momentos da minha vida. O Golden Tuberose, recém-lançado, foi inspirado no meu casamento, repleto de flores brancas. O Sandal Affair teve inspiração no período em que morei na França", resume.

Saiba mais

Planos de expansão

A Felisa tem duas lojas físicas, uma na Colômbia e outra no México, e há outras negociações internacionais em andamento. "Acredito que os próximos 18 meses serão de crescimento acelerado dentro e fora do país. Aliás, lançamos nosso site global há menos de um mês, e agora entregamos para o mundo inteiro", diz.

Orcioli captou investimento (não divulgado) na modalidade friends & family no ano passado e considera abrir uma nova rodada no segundo semestre. "Há várias possibilidades de crescimento, muitas consultas acontecendo e penso que precisamos de verba para fazer várias dessas coisas se tornarem realidade", conclui.

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Fonte: PEGN - EDITORA GLOBO

Tags:   Pegn
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