A Páscoa de 2025 apresentou um cenário de crescimento moderado para o varejo brasileiro, refletindo tanto a resiliência do setor quanto os desafios econômicos enfrentados pelo país. Mesmo com alta nos preços e pressões inflacionárias, a tradição de presentear com chocolate manteve sua força nos lares brasileiros, reafirmando o produto como um símbolo central da data e um dos principais motores do comércio sazonal.
Chocolate: O coração da Páscoa no Brasil
O chocolate continua sendo o protagonista absoluto da Páscoa brasileira. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Amendoim e Balas (Abicab), a produção de chocolates no primeiro trimestre de 2025 cresceu 5,2% em comparação ao mesmo período do ano anterior. Só em março, foram mais de 11 mil toneladas destinadas à fabricação de ovos e produtos temáticos.
Além do simbolismo religioso e cultural, o chocolate representa uma forma de afeto e celebração familiar. Cerca de 73% das famílias brasileiras afirmaram que não deixariam de comprar pelo menos um item de chocolate para comemorar a data, segundo pesquisa da Kantar divulgada em abril. Isso inclui ovos tradicionais, caixas de bombons, barras temáticas e lembranças artesanais.
Impacto nas vendas e comportamento do consumidor
O setor de supermercados foi o maior beneficiado no período, com alta de 21,7% nas vendas em relação a 2024. Dentro deste grupo, os produtos de chocolate lideraram os itens mais procurados. O varejo alimentício especializado, como chocolaterias e lojas gourmet, também obteve bons resultados, com crescimento de 4,9%, segundo o Índice Cielo de Varejo Ampliado (ICVA).
Apesar do crescimento nominal, o aumento médio de 12% nos preços dos ovos e derivados afetou o volume adquirido por famílias de menor renda. Ainda assim, o hábito de comprar chocolates mais simples ou apostar em versões artesanais e caseiras permitiu que o doce permanecesse nas comemorações.
O chocolate no lar e na memória afetiva
A importância do chocolate vai além do comércio: ele exerce um papel afetivo e simbólico nos lares brasileiros. Para muitas famílias, a Páscoa é uma oportunidade de reforçar vínculos, celebrar tradições e criar memórias e o chocolate, com sua presença marcante nas mesas e nas cestas, é um elo entre gerações.
Segundo a Abicab, 68% dos consumidores entrevistados afirmaram que compram chocolates mais por razões emocionais do que racionais. O cheiro, o sabor e o ato de presentear são associados a carinho e proximidade. Essa conexão emocional explica, em parte, porque mesmo em períodos de dificuldade econômica, o consumo se mantém resiliente.
Comparativo com 2024
Em 2024, as vendas do varejo durante a Páscoa haviam recuado 5%, afetadas pelo calendário e pela restrição orçamentária das famílias. Já em 2025, o crescimento foi de 4,6%, mas abaixo da inflação acumulada de 5,36%, o que representa um leve recuo em termos reais. Ainda assim, o mercado de chocolates se manteve estável e robusto, com variações positivas em volume e diversidade de produtos.
Indústria e adaptação
Para lidar com as novas demandas dos consumidores, a indústria de chocolates investiu em inovação. Houve aumento na oferta de produtos com menos açúcar, opções veganas, embalagens sustentáveis e formatos diferenciados, como ovos com brindes interativos, personagens licenciados e experiências sensoriais.
O pequeno varejo e os empreendedores também ganharam força. O número de micro e pequenos negócios produzindo chocolates artesanais aumentou 8% em relação ao ano anterior, com destaque para vendas online e por redes sociais. Isso mostra uma descentralização do consumo e uma abertura para novos nichos de mercado.
Expectativas e panorama econômico
Embora o crescimento registrado em 2025 seja considerado modesto, ele sinaliza uma retomada do consumo e uma valorização da experiência de compra e celebração. O chocolate, como símbolo da Páscoa, ainda é capaz de movimentar bilhões de reais na economia brasileira, estimular a produção, impulsionar o pequeno comércio e fortalecer vínculos sociais.
Especialistas afirmam que, para as próximas datas comemorativas, será fundamental equilibrar preço, experiência e valor afetivo. Em tempos de incertezas, o que permanece constante é o desejo do brasileiro de celebrar e o chocolate continua sendo o ingrediente preferido para tornar esses momentos doces e memoráveis.
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Leidiene Queiroz
Administradora, Professora, Coordenadora da Câmara da Mulher Empresária em Feira de Santana