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Sair de cena sem derrubar o palco.

Sair de uma relação - seja profissional, afetiva ou até espiritual - exige mais do que coragem. Exige caráter. Não se trata de sair apenas, mas de como sair.

Por Portal Bahia Bahia em 17/04/2025 às 14:21:38

Sair de uma relação - seja profissional, afetiva ou até espiritual - exige mais do que coragem. Exige caráter. Não se trata de sair apenas, mas de como sair. E é aí que muita gente tropeça. Sai atirando, cuspindo no prato que comeu, apontando dedos em busca de culpados, como se a dor da saída só fosse suportável se carregasse consigo um vilão. E não, não precisa ser assim. Basta ser verdadeiro.

A dignidade na saída diz mais sobre você do que sobre quem você deixa para trás. E, convenhamos, em tempos de tantas pregações sobre sororidade, hombridade, empatia e respeito, é no fim que se revela a real prática desses discursos. Porque é fácil ser coerente quando tudo está bem. Difícil mesmo é manter a coerência na hora do "tchau". E manter a boca fechada, às vezes, é o ato mais nobre de quem já disse tudo o que precisava dizer com atitudes. E sair imaginando coisas, alucinadamente, sem colocar em panos limpos, causando dor ao outro, por acusações infundadas, também pode mostrar que quem teve o livramento foi o que ficou.

Não é necessário ofender, acusar, inventar narrativas tortas para justificar sua escolha. A verdade, mesmo quando dói, liberta. Mas a mentira, além de aprisionar, destrói. E o pior: destrói o outro. Especialmente quando esse outro é alguém que está em evidência, com visibilidade, com uma reputação construída a duras penas - muitas vezes numa cidade onde todo mundo se conhece, onde tudo ecoa mais alto. Você não precisa disso para sair. Só precisa de coragem e verdade.

É tão fácil tentar sair por cima rebaixando quem fica. Mas isso não é altivez, é covardia. E um aviso: a cidade é pequena, a vida é circular e a verdade, ah, a verdade sempre tem seu próprio megafone. Mais cedo ou mais tarde, ela fala. Então que sua saída não seja um escândalo, mas um exemplo. Que ela não manche, que ela não julgue, que ela não vire motivo de vergonha alheia. Que ela seja lembrada com respeito. E isso, só quem tem respeito próprio consegue fazer.

É legítimo querer sair. É até saudável em muitos casos. Relações terminam, ciclos se encerram, caminhos se bifurcam. Mas cada fim conta uma história. Que a sua não seja contada com rancor, mas com maturidade. Que sua escolha não precise se justificar com acusações sem prova, com ataques gratuitos, com narrativas distorcidas que tentam apagar o valor do outro para destacar o seu. O brilho de ninguém precisa apagar o do outro.

Sair de uma relação não precisa ser um campo de guerra onde se lançam bombas de ofensas e se cavam valas de mentiras. Não é necessário sair cuspindo fogo, como se destruir o outro fosse requisito para se sentir livre. Ninguém precisa inventar histórias, distorcer os fatos ou criar monstros onde só havia humanidade. A verdade é que algumas pessoas não suportam encerrar um ciclo em silêncio — precisam de plateia, de aplauso, de vilão. Mas nem tudo é novela. E nem todo mundo vai continuar a aceitar ser figurante na sua ficção pessoal.

E tem mais: pessoas erram. Pessoas falham. E mesmo quando falham, continuam tendo o direito sagrado de se defender. Quem é você para decretar que só sua dor importa? Que só sua versão deve ser ouvida? Sair de uma relação com dignidade não é só bonito — é necessário. É coerente, especialmente para quem vive fazendo discursos inflamados sobre justiça, humildade e amor ao próximo. Falar bonito é fácil. Difícil é praticar. Porque sair atirando é para os fracos. Os fortes fecham a porta em silêncio, seguram as lágrimas e seguem — sem destruir ninguém no caminho.

Porque sair com dignidade é, no fundo, um ato de amor. Amor por si, pelo outro e pela história que se construiu - mesmo que tenha chegado ao fim. E isso, minha cara, meu caro, é para poucos.

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Helena Silveira
Pedagoga, Empresária, Especialista em Adm. e Marketing/Terapias Cognitivo Comportamentais, Artesã (Apaixonada por crochê)



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